ABSTRACT
A Hipomineralização Molar Incisivo (HMI) é um defeito qualitativo do esmalte dentário que afeta primeiros molares permanentes, frequentemente, associados a incisivos permanentes afetados. O objetivo deste estudo foi avaliar a percepção e a experiência dos dentistas da Estratégia Saúde da Família (ESF) do estado do Rio de Janeiro em relação à HMI. O estudo teve caráter transversal observacional e foi realizado por meio da aplicação de um questionário autoadministrado, através da plataforma Google Formulários (Google LLC, Mountain View, CA, USA) para os dentistas da ESF dos municípios do interior do estado do Rio de Janeiro. Foram excluídos dentistas com menos de 1 ano em sua unidade. O questionário foi elaborado com questões sobre "Dados sociodemográficos" (1); "Experiência clínica com HMI" (2); "Educação permanente na ESF" (3) e foi atribuído escore ao instrumento final para definição da "Escala de percepção da HMI como um problema clínico", totalizando 36 pontos. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto (CAAE: 48541921.4.0000.5259). A coleta de dados foi realizada entre os meses de janeiro e fevereiro de 2022 e os dados obtidos foram tabulados no programa SPSS versão 25 (IBM Institute Inc. Armonk, NY, EUA). Testou-se associações entre o escore médio do questionário com as variáveis independentes, através do teste T de Student (variável independente dicotômica) ou ANOVA (variável independente ordinal de três ou mais categorias), pressupondo uma distribuição normal dos dados. A partir da análise bivariada, foram selecionadas as variáveis independentes para a análise de regressão de Poisson com variância robusta. Foi obtido 370 respostas dos dentistas, após 2 lembretes, e foram incluídas 304 respostas dos dentistas. 95,8% dos dentistas já se depararam com casos de HMI mas 58,6% relataram que nunca tiveram acesso a materiais didáticos sobre HMI. No ambiente da ESF, o tratamento mais prevalente foi o CIV espatulável para o caso 1 (65,1%) e o caso 2 (48,4%); e o flúor tópico para o caso 3 (54,6%). Já na livre-escolha, os tratamentos mais prevalentes foram restaurações indiretas para o caso 1 (38,9%) e as restaurações em resina para o caso 2 (37,2%); para o tratamento do caso 3, foi o flúor tópico (47,4%). 91,1% relataram nunca ter empregado a Hall Technique, porém, 52% indicariam para HMI severa. A média do valor de percepção dos respondentes foi de 22,74 (DP=5,117), valor considerado significativo para a percepção da HMI como um problema clínico. A análise multivariada, em termos de razão de prevalência e 95% de intervalo de confiança, foram indivíduos na categoria "Pós-graduação em Odontopediatria" (RP: 1,226; IC 95%: 1,12 1,33; p<0,001) e dentistas atuantes da "Região Serrana" (RP: 1,087; IC 95%: 1,001 1,179, p<0,001). A análise das respostas do questionário permitiu constatar que a maior parte dos dentistas se depara com a HMI com relativa frequência, observa implicações clínicas relevantes e percebem a HMI como um desafio clínico no ambiente da ESF.